sexta-feira, 1 de maio de 2009

Um dia no hospital

Por telefone mesmo, o médico pede-me dois exames relativos à tireóide, ao ler um exame de sangue. Um deles, se eu estivesse no consultório, teria contestado a urgência, já que o exame de ultrassom da tireóide ainda não foi feito, devido à demora do hospital -- considerado de excelente padrão, em Higienópolis -- em marcar a data. Mas, enfim, costumo ouvir os médicos e marquei os exames: um ultrassom pélvico (creio que para examinar os ovários) e uma tomografia computadorizada das glândulas supra-renais. O primeiro é marcado para as dez e meia da manhã e avisam-me que devo tomar quatro copos de água uma hora antes; o segundo, não exige preparação, apenas que eu faça jejum de quatro horas e é marcado para meio-dia e quinze e a atendente me pergunta se não me importo em esperar. Digo que não (não uso celular, mas tenho meu walkman e posso levar um livro, penso).

Costumo acordar tarde, mas sete e meia estou em pé e tomo o café da manhã, para que dê o tempo de jejum para o segundo exame. Tomo o táxi às dez, enquanto eu fico em pé esperando que me atendam um senhor é mais rápido e vai retirar a senha, ou seja, passou na minha frente, mas eu penso que tudo bem, já que é idoso e seria chamado primeiro. Na hora da entrevista, uma certa confusão com meu plano, que havia pedido que eu enviasse um fax com o pedido do médico e me fornecido uma senha, a qual agora o pessoal do atendimento não tem acesso, por algum motivo. De bexiga cheia, espero que resolvam tal problema burocrático. Vinte minutos depois, passada a hora do exame, vou para a sala de espera e logo sou chamada. O modo como fui educada me leva a dizer: olha, cheguei na hora, mas houve demora na recepção. A enfermeira sorri amarelamente e descubro que para ela tanto faz, claro.

Feito o primeiro exame, fico andando um pouco pelo hospital, mas não reconheço quase nada, pois sofreu um recente reforma, assim como o meu prédio, que tinha um jeito aconchegante e meio caipira e agora virou um cartão postal burguês com tudo arrumadinho e certinho e ok, vamos lá, são os tempos modernos, o look é tudo, embora o estofo continue embolorado...
O exame é 12:15, mas vinte para o meio-dia estou na sala de recepção, pois resolvi sentar um pouco. É uma ante-sala com cadeiras, um bebedouro e um banheiro e depois vem uma porta larga que adentra aos corredores do lugar para exames. Sozinha na enorme sala, leio um pouco e em seguida começo a conversar com a mulher ao meu lado, que chega, o rosto todo marcado, pois havia caído no calçamento próximo à Pacaembu. Dali uns vinte minutos chega uma atendente e diz, olhando com espanto para mim: onde estava a senhora, o que aconteceu? Respondo: como assim, o que aconteceu? E ela: a senhora tinha que estar aqui duas horas antes para o preparo do exame, que é tomar um contraste de dez em dez minutos... Eu comento que ninguém me avisou nada e que estava até fazendo hora lá embaixo, entre um exame e outro. Ou seja, eu estava há quatro horas em jejum, como o pedido. E, a moça deixa a entender que terei que ficar mais duas horas lá, tomando o tal contraste. Aceito, mas chateada com quem me informou mal sobre o tal exame. O que é um jejum de seis horas? Penso.

Ok. Começo a tomar o contraste e posso ir ao banheiro, o que é um alívio. Nessas duas horas, entram e saem macas com gente com tubos ou ferimentos pelo corpo. Afinal, escolhi fazer o exame num hospital... -- burrice minha? Claro! O hospital sempre vai priorizar as emergências e é o que acontece. Passadas as duas horas, eu com o tal contraste no corpo, e este dolorido por tantas horas de espera, a barriga roncando de fome, não vejo me chamarem e o que vejo, sim, são pessoas entrando por aquela porta todas antes de mim. Não se pode falar ao celular -- há uma placa tímida indicando isto e que também é proibido fumar, mas o jovenzinho ao meu lado resolve anunciar à família inteira e aos amigos dele que a mãe (que chegou em cadeira de rodas) estava com fortes dores de cabeça e agora está numa tomo. Depois vem um casal com um bebezinho; um velho cheio de tubos numa cadeira de rodas. E assim vão entrando -- claro, eles têm prioridade! -- e eu espero mais uma hora lá, até que digo ao enfermeiro: escuta, vocês não esqueceram de mim, não? Ele faz um gesto meio sem graça e responde, com uma falsa indignação: nãaaaaaaaaao! Passados uns dez minutos, sou atendida, ou seja, se o preparo do exame exigia duas horas, eu fiquei TRÊS ali, com aquele contraste no meu corpo -- será que isto é ruim? Penso. Mas não pergunto nada, pois tenho que ouvir as instruções do enfermeiro para trocar de roupa, etc. Lá dentro, fazem-me tomar mais dois copos de água com um líquido amargo, que depois soube é iodo. Ainda tomo uma injeção na veia, para mais contraste.

De qualquer modo, faço o maldito horroroso exame, tentando levar tudo na leveza para que o meu dia não se acabe por completo; depois, saio zonza, mal me despeço do atendente e tomo um lanche mixuruca no próprio hospital e, quando chego em casa, há um telefonema, de uma atendente de nome Simone querendo falar comigo ao telefone. Deixa o número e o ramal. Ligo lá, falo com outra atendente e como ela não sabe quem é Simone, eu pergunto se ela quer ouvir a voz de quem deixou o recado para mim; coloco a voz que está na secretária-eletrônica para que ela ouça. Ela diz que reconhece a voz e que logo me liga de volta. Não liga. Mais de seis horas da tarde e ligo de volta ao hospital, naquele número, mas ninguém atende. Vem uma indignação tardia. Fizeram tudo errado comigo, estou com dores no corpo de tanto esperar, passei fome e a bexiga dói depois de tomar tanto líquido num só dia. Para fazer dois exames, fiquei em função dele das sete e meia da manhã até as cinco da tarde (sem contar que a volta foi um desastre, pois ontem foi véspera de feriado).

Isso não é um abuso? Cá pra nós, isso não é mesmo um abuso, num dos maiores hospitais de São Paulo? O que fazer, uma queixa ou deixar o barco correr, pois logo os novos problemas aparecem e hoje é feriado e o que preciso mais é relaxar de ontem? Por que afinal essas coisas têm que acontecer, se o hospital tem fama de ser bom, organizado, um dos melhores de São Paulo -- se o meu plano é caríssimo? Escrevo isto, pois, como vi na novela das oito (não que eu não soubesse, mas estava perdido na memória), a gente tem que se expressar e desabafar por algum lugar. Para isto servem os blogs. E os hospitais, para que servem, eles que deveriam minorar as nossas dores e não dar-lhes mais corpo ainda?

4 comentários:

  1. Isa,
    Como vc sabe, sou perita em hospitais, etc, mas nunca passei uma situação como a sua. Acho que te esqueceram sim, pois faço um exame que tenho que ficar 1 hora deitada pra colher o sangue e aqui eles são super pontuais, qdo bate uma hora, estão colhendo meu sangue. Acho que vc deveria reportar isso ao seu médico e fazer uma reclamação formal ao seu plano de saúde, relatando tudo e enfatizando que ninguém te avisou da 2a parte do exame, de tomar líquido de 10 em 10 minutos. Vc sabe que esse é um dos motivos que levam as pessoas a não quererem fazer qquer exames que se façam necessários? Qdo elas lembram no que aconteceu evitam os novos. Espero que não aconteça isso a vc, pense que foi só uma coisa pontual e qdo for marcar novos exames faça perguntas: "do que se trata esse exame?", "como é feito?" "demora?" "qtas horas em jejum?". Isso deveria vir acompanhando o formulário do pedido do exame, no médico ou no laboratório, mas infelizmente raramente é feito.
    Na semana passada fui fazer um exame de urina, pois tive uma infecção "silenciosa", o médico que fez o pedido de exame, colocou "urina I, urocultura, uréia e creatinina" tudo na mesma linha, nem comentou comigo que creatinina é exame de sangue. Resultado, segurei a urina e tomei café da manhã com direito a pão de queijo...qdo cheguei no laboratório a atendente fez a pergunta: está em jejum de 4 horas? Eu falei, claro que não, o exame é de urina...e ela falou: creatinina é sangue...Imagina, já fiz muitos exames de sangue e foi só médico colocar o de urina junto com creatina e eu nem me toquei, foi falha minha...tive que voltar no outro dia pra completar o exame...
    Depois nos passe os resultados dos exames, tenho problema de hipotiroidismo e tomo remédio todo dia, essa tb foi uma das causas de eu engordar.
    Bjs da Sonia

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  2. Legal, Isa, tem mais é que escrever reclamando, sim senhora... beijos e parabéns pelo novo blog...
    Marildex

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  3. Certas coisas sobre médicos sempre me irritam, como tal horário marcado que nunca é cumprido, mas tenho que admitir, dessa vez o desrespeito foi além do que já tinha ouvido em outras histórias!

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  4. Grata por postarem aqui! Soninha, eu acho que vc não é obrigada a saber que creatina é um exame de sangue e que o erro foi seu, o erro foi do médico que colocou tudo junto! Mas já aprendi, vou dar uma de chata e perguntar ABSOLUTAMENTE tudo! Agora, atenção ao detalhe: se eu tenho que tomar o contraste duas horas antes, por que então marcaram um exame às 10:30 e outro às 12:15? O tempo não corresponde ás duas horas pedidas, não é mesmo? Erro de quem marcou, também e, principalmente! :.(

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