sábado, 9 de maio de 2009

Memória, vhs e dvds

Já é sabida a passagem proustiana das madeleines -- ao saboreá-las o protagonista memoriza passagens de sua infância. Foi o que me aconteceu, hoje, ao ter que colocar na lixeira os vhs que estão dando lugar aos dvds na minha estante. Ainda assim, não consegui expulsar todos eles de seus confortáveis lugares, em que ficaram décadas, ali, se exibindo para mim e me tentando. Ao separá-los, lembrei-me dos dias em que fui atrás deles, principalmente no centro ou em varreduras pelas locadoras. Os telefonemas que dei às distribuidoras e a alegria de receber o tape pelo correio, ao abrir aquela caixa volumosa. Hoje, os dvds devem vir em caixas mirradas, o que não é a mesma coisa. Os vhs eram/são sólidos, robustos, dá vontade de pegar neles. Foi com o coração partido que vi irem para o lixo O Estado das Coisas, de Wenders, um filme pelo o qual batalhei muito. O dvd duplo de E o Vento Levou... E todos os Fassbinder, John Huston, Woody Allen, Chabrol, Almodóvar...

Freud explica: não consegui me desfazer de alguns Fellini e Hitchcock, filmes cotidianamente compartilhados com um ex-companheiro. Ao mesmo tempo, tenho mais Chabrol que antes, um O Deserto dos Tártaros que não tinha antes e Berlin Alexanderplatz, que não teve versão em vhs (que eu saiba).

Eu aconselharia a todos a não se desfazerem completo de coisas que fizeram parte de uma importante etapa da vida, pensando nas tais madeleines e como isto contribui para a questão da memória. Nada de nostalgia, apenas para refrescá-la e repensar algumas fases, ponderar, equilibrar e ver ali alguma história. É isto... por hoje. Vou voltar aos meus vhs, pois ainda tenho ali preciosidades que não saíram em dvd (como o genial Um Assunto de Mulheres, de Chabrol) e quero passar o dia de hoje assistindo a algum ótimo filme, pois cinema é uma das prioridades em minha vida e é algo que me faz muito, muito feliz mesmo.

sábado, 2 de maio de 2009

A morte de Boal

Estou chocada com a morte de Augusto Boal, que nem chegou aos oitenta, embora estivesse muito perto. Quando eu fazia teatro em Campinas, ganhei num aniversário, da minha amiga Vera Mancini (Veral) -- que hoje é atriz conceituada aqui em Sampa (estou em dívida com ela, vê-la nos espetáculos!) -- um livro de Boal sobre o teatro do oprimido. Chama-se (fui ver na estante, pois carrego comigo tudo ou, quase tudo o que fez parte da minha infância, adolescência e juventude) " Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas". Infelizmente este livro estava na leva dos que receberam uma boa dose de óleo de cozinha quando me mudei, estabanadamente, de uma casa para outra na década de oitenta. Não faz mal, é só na parte debaixo... de resto, está inteirinho.

Enfim, estou chocada porque ele foi um ícone para quem se interessava por teatro naquela época, teórica ou praticamente. Eu comecei cedo no teatro, aos dez anos, depois fiquei sete anos sem ter muito contato e voltei a trabalhar em teatro amador e, depois, profissionalmente com uma peça, a tragédia grega que inaugurou o teatro de arena de Campinas. Foram anos muito férteis e muito duros, por causa da ditadura militar. Boal teve que sair do Brasil, exilado. Quando voltou, eu já morava em Sampa e fui num evento no teatro Oficina, comandado por Zé Celso -- foi uma noite linda, com velas e trechos de trabalhos de Boal no exterior, se não me engano, em Portugal, principalmente. Nesse evento, houve a derrubada do muro do teatro, para que ele se tornasse o enorme galpão que é hoje.

Não sei como andava Boal, sua carreira; há muito tempo não me interesso como deveria pelo teatro, priorizando o cinema, a literatura, a música e as artes plásticas. Mas adoro teatro, acho uma arte magnífica, pois não prescinde da presença das pessoas, na platéia, para existir, o que é muito caloroso, gratificante, humano. Principalmente nesse mundo virtual de hoje.
Que esteja bem, Boal, esteja onde estiver. Notadamente por ter sido um resistente, na ditadura militar, sempre teve o meu apreço.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Um dia no hospital

Por telefone mesmo, o médico pede-me dois exames relativos à tireóide, ao ler um exame de sangue. Um deles, se eu estivesse no consultório, teria contestado a urgência, já que o exame de ultrassom da tireóide ainda não foi feito, devido à demora do hospital -- considerado de excelente padrão, em Higienópolis -- em marcar a data. Mas, enfim, costumo ouvir os médicos e marquei os exames: um ultrassom pélvico (creio que para examinar os ovários) e uma tomografia computadorizada das glândulas supra-renais. O primeiro é marcado para as dez e meia da manhã e avisam-me que devo tomar quatro copos de água uma hora antes; o segundo, não exige preparação, apenas que eu faça jejum de quatro horas e é marcado para meio-dia e quinze e a atendente me pergunta se não me importo em esperar. Digo que não (não uso celular, mas tenho meu walkman e posso levar um livro, penso).

Costumo acordar tarde, mas sete e meia estou em pé e tomo o café da manhã, para que dê o tempo de jejum para o segundo exame. Tomo o táxi às dez, enquanto eu fico em pé esperando que me atendam um senhor é mais rápido e vai retirar a senha, ou seja, passou na minha frente, mas eu penso que tudo bem, já que é idoso e seria chamado primeiro. Na hora da entrevista, uma certa confusão com meu plano, que havia pedido que eu enviasse um fax com o pedido do médico e me fornecido uma senha, a qual agora o pessoal do atendimento não tem acesso, por algum motivo. De bexiga cheia, espero que resolvam tal problema burocrático. Vinte minutos depois, passada a hora do exame, vou para a sala de espera e logo sou chamada. O modo como fui educada me leva a dizer: olha, cheguei na hora, mas houve demora na recepção. A enfermeira sorri amarelamente e descubro que para ela tanto faz, claro.

Feito o primeiro exame, fico andando um pouco pelo hospital, mas não reconheço quase nada, pois sofreu um recente reforma, assim como o meu prédio, que tinha um jeito aconchegante e meio caipira e agora virou um cartão postal burguês com tudo arrumadinho e certinho e ok, vamos lá, são os tempos modernos, o look é tudo, embora o estofo continue embolorado...
O exame é 12:15, mas vinte para o meio-dia estou na sala de recepção, pois resolvi sentar um pouco. É uma ante-sala com cadeiras, um bebedouro e um banheiro e depois vem uma porta larga que adentra aos corredores do lugar para exames. Sozinha na enorme sala, leio um pouco e em seguida começo a conversar com a mulher ao meu lado, que chega, o rosto todo marcado, pois havia caído no calçamento próximo à Pacaembu. Dali uns vinte minutos chega uma atendente e diz, olhando com espanto para mim: onde estava a senhora, o que aconteceu? Respondo: como assim, o que aconteceu? E ela: a senhora tinha que estar aqui duas horas antes para o preparo do exame, que é tomar um contraste de dez em dez minutos... Eu comento que ninguém me avisou nada e que estava até fazendo hora lá embaixo, entre um exame e outro. Ou seja, eu estava há quatro horas em jejum, como o pedido. E, a moça deixa a entender que terei que ficar mais duas horas lá, tomando o tal contraste. Aceito, mas chateada com quem me informou mal sobre o tal exame. O que é um jejum de seis horas? Penso.

Ok. Começo a tomar o contraste e posso ir ao banheiro, o que é um alívio. Nessas duas horas, entram e saem macas com gente com tubos ou ferimentos pelo corpo. Afinal, escolhi fazer o exame num hospital... -- burrice minha? Claro! O hospital sempre vai priorizar as emergências e é o que acontece. Passadas as duas horas, eu com o tal contraste no corpo, e este dolorido por tantas horas de espera, a barriga roncando de fome, não vejo me chamarem e o que vejo, sim, são pessoas entrando por aquela porta todas antes de mim. Não se pode falar ao celular -- há uma placa tímida indicando isto e que também é proibido fumar, mas o jovenzinho ao meu lado resolve anunciar à família inteira e aos amigos dele que a mãe (que chegou em cadeira de rodas) estava com fortes dores de cabeça e agora está numa tomo. Depois vem um casal com um bebezinho; um velho cheio de tubos numa cadeira de rodas. E assim vão entrando -- claro, eles têm prioridade! -- e eu espero mais uma hora lá, até que digo ao enfermeiro: escuta, vocês não esqueceram de mim, não? Ele faz um gesto meio sem graça e responde, com uma falsa indignação: nãaaaaaaaaao! Passados uns dez minutos, sou atendida, ou seja, se o preparo do exame exigia duas horas, eu fiquei TRÊS ali, com aquele contraste no meu corpo -- será que isto é ruim? Penso. Mas não pergunto nada, pois tenho que ouvir as instruções do enfermeiro para trocar de roupa, etc. Lá dentro, fazem-me tomar mais dois copos de água com um líquido amargo, que depois soube é iodo. Ainda tomo uma injeção na veia, para mais contraste.

De qualquer modo, faço o maldito horroroso exame, tentando levar tudo na leveza para que o meu dia não se acabe por completo; depois, saio zonza, mal me despeço do atendente e tomo um lanche mixuruca no próprio hospital e, quando chego em casa, há um telefonema, de uma atendente de nome Simone querendo falar comigo ao telefone. Deixa o número e o ramal. Ligo lá, falo com outra atendente e como ela não sabe quem é Simone, eu pergunto se ela quer ouvir a voz de quem deixou o recado para mim; coloco a voz que está na secretária-eletrônica para que ela ouça. Ela diz que reconhece a voz e que logo me liga de volta. Não liga. Mais de seis horas da tarde e ligo de volta ao hospital, naquele número, mas ninguém atende. Vem uma indignação tardia. Fizeram tudo errado comigo, estou com dores no corpo de tanto esperar, passei fome e a bexiga dói depois de tomar tanto líquido num só dia. Para fazer dois exames, fiquei em função dele das sete e meia da manhã até as cinco da tarde (sem contar que a volta foi um desastre, pois ontem foi véspera de feriado).

Isso não é um abuso? Cá pra nós, isso não é mesmo um abuso, num dos maiores hospitais de São Paulo? O que fazer, uma queixa ou deixar o barco correr, pois logo os novos problemas aparecem e hoje é feriado e o que preciso mais é relaxar de ontem? Por que afinal essas coisas têm que acontecer, se o hospital tem fama de ser bom, organizado, um dos melhores de São Paulo -- se o meu plano é caríssimo? Escrevo isto, pois, como vi na novela das oito (não que eu não soubesse, mas estava perdido na memória), a gente tem que se expressar e desabafar por algum lugar. Para isto servem os blogs. E os hospitais, para que servem, eles que deveriam minorar as nossas dores e não dar-lhes mais corpo ainda?

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Difícil criar um blog, ufa!

Finalmente, apenas depois de ir a um computador público consegui criar um blog. Por mais que eu configurasse meu computador, cookies, java, etc. nada acontecia... Vamos ver se consigo dar continuidade a este. Até mais ver!